- 25/09/2021
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*Texto Adaptado
Alec Baldwin entrevistou Woody Allen (que está lançando um novo livro) e Woody falou também sobre seu desânimo em relação ao cinema, quanto a fazer filmes que serão vistos primeiramente no streaming etc. Achei interessante o depoimento dele, pois falamos muito sobre como o streaming empobrece a experiência para o espectador, mas pouco sobre como isso desmotiva também o cineasta. Woody discute na live como é completamente diferente produzir um filme quando você sabe que aquilo será exibido em dezenas de salas ao redor do país, que centenas de pessoas se reunirão num mesmo lugar, terão suas atenções voltadas para o seu trabalho durante algumas horas, e que você estará criando um programa pra milhares de pessoas, quase como se o cineasta tivesse um lado “produtor de eventos” também, e proporcionar esses "shows" fizesse parte da graça (lembrando que estamos falando de Woody Allen, famoso por ser um artista melancólico, deprimido — se até ele era motivado por entreter o público, e acha que agora as coisas perderam a graça, é hora de se preocupar).
Observando bem, não é apenas o cinema que entrou em crise, mas todo o entretenimento, a busca pela felicidade e por prazer de modo geral. Não é que o cinema está em baixa, mas as pessoas estão se divertindo horrores em outros lugares. É como se buscar experiências divertidas, dedicar tempo ao lazer, sair de casa atrás de atividades lúdicas, tivesse em si saído de "moda". Reparem como há menos estabelecimentos nas cidades hoje voltados exclusivamente para a diversão. Até a minha adolescência, parques de diversão eram fáceis de encontrar: em São Paulo, existia o Playcenter numa região bem central da cidade; quando íamos pro interior ou pra praia, o "parquinho" da cidade era sempre uma opção de programa (o que casa com o fato de que ir pra Disney era a obsessão de todos nos anos 80-90). Muitos aniversários eram feitos em boliches, que não eram difíceis de achar também (em shoppings ou fora), assim como pistas de patinação no gelo, mini-golfes, bingos (até serem proibidos)... Casas de fliperama também eram populares (outro dia revi Quanto Mais Idiota Melhor, de 1993, e no filme há um bilionário dono de uma rede de fliperamas — algo difícil de imaginar hoje). Sem falar nas videolocadoras, que acabavam sendo um programa em si, não eram só um espaço funcional. Faz sentido que algumas dessas coisas tenham sido transformadas com o surgimento de novas tecnologias, mas até coisas como o McDonald's, que continuam existindo, se você analisar os prédios quadrados, beges e sóbrios de hoje, e comparar com os estabelecimentos do passado, fica claro como o entretenimento já teve uma importância muito maior no dia a dia das pessoas.
Não que o desejo de se divertir tenha desaparecido. É um pouco como a questão do altruísmo na cultura — você não consegue eliminar os impulsos individualistas das pessoas, mas conseguem reprimir, inculcar culpa, fazer as pessoas satisfazerem suas necessidades de forma distorcida, camuflada, indireta, menos satisfatória. Ano passado abriu uma hamburgueria temática "oficial" do Jurassic Park aqui em São Paulo (toda decorada com dinossauros, objetos do filme), e até hoje eu não consegui ir pois ela vive lotada, com filas dobrando o quarteirão, como se fosse o próprio parque da Universal — o que demonstra um certo desequilíbrio entre os desejos da população e o que é oferecido como opção de lazer nas cidades (isso que estou falando de São Paulo, uma das maiores da América Latina).
saopauloparacriancas.com.br
Enfim, dá pra falar de música, design, jogos, moda, gastronomia, turismo e infinitas manifestações disso, mas o interessante é olhar pra essa crise do entretenimento não como um problema exclusivo de Hollywood, mas como um fenômeno cultural maior.

Alec Baldwin entrevistou Woody Allen (que está lançando um novo livro) e Woody falou também sobre seu desânimo em relação ao cinema, quanto a fazer filmes que serão vistos primeiramente no streaming etc. Achei interessante o depoimento dele, pois falamos muito sobre como o streaming empobrece a experiência para o espectador, mas pouco sobre como isso desmotiva também o cineasta. Woody discute na live como é completamente diferente produzir um filme quando você sabe que aquilo será exibido em dezenas de salas ao redor do país, que centenas de pessoas se reunirão num mesmo lugar, terão suas atenções voltadas para o seu trabalho durante algumas horas, e que você estará criando um programa pra milhares de pessoas, quase como se o cineasta tivesse um lado “produtor de eventos” também, e proporcionar esses "shows" fizesse parte da graça (lembrando que estamos falando de Woody Allen, famoso por ser um artista melancólico, deprimido — se até ele era motivado por entreter o público, e acha que agora as coisas perderam a graça, é hora de se preocupar).

Observando bem, não é apenas o cinema que entrou em crise, mas todo o entretenimento, a busca pela felicidade e por prazer de modo geral. Não é que o cinema está em baixa, mas as pessoas estão se divertindo horrores em outros lugares. É como se buscar experiências divertidas, dedicar tempo ao lazer, sair de casa atrás de atividades lúdicas, tivesse em si saído de "moda". Reparem como há menos estabelecimentos nas cidades hoje voltados exclusivamente para a diversão. Até a minha adolescência, parques de diversão eram fáceis de encontrar: em São Paulo, existia o Playcenter numa região bem central da cidade; quando íamos pro interior ou pra praia, o "parquinho" da cidade era sempre uma opção de programa (o que casa com o fato de que ir pra Disney era a obsessão de todos nos anos 80-90). Muitos aniversários eram feitos em boliches, que não eram difíceis de achar também (em shoppings ou fora), assim como pistas de patinação no gelo, mini-golfes, bingos (até serem proibidos)... Casas de fliperama também eram populares (outro dia revi Quanto Mais Idiota Melhor, de 1993, e no filme há um bilionário dono de uma rede de fliperamas — algo difícil de imaginar hoje). Sem falar nas videolocadoras, que acabavam sendo um programa em si, não eram só um espaço funcional. Faz sentido que algumas dessas coisas tenham sido transformadas com o surgimento de novas tecnologias, mas até coisas como o McDonald's, que continuam existindo, se você analisar os prédios quadrados, beges e sóbrios de hoje, e comparar com os estabelecimentos do passado, fica claro como o entretenimento já teve uma importância muito maior no dia a dia das pessoas.
Não que o desejo de se divertir tenha desaparecido. É um pouco como a questão do altruísmo na cultura — você não consegue eliminar os impulsos individualistas das pessoas, mas conseguem reprimir, inculcar culpa, fazer as pessoas satisfazerem suas necessidades de forma distorcida, camuflada, indireta, menos satisfatória. Ano passado abriu uma hamburgueria temática "oficial" do Jurassic Park aqui em São Paulo (toda decorada com dinossauros, objetos do filme), e até hoje eu não consegui ir pois ela vive lotada, com filas dobrando o quarteirão, como se fosse o próprio parque da Universal — o que demonstra um certo desequilíbrio entre os desejos da população e o que é oferecido como opção de lazer nas cidades (isso que estou falando de São Paulo, uma das maiores da América Latina).

Atenção fãs de dinos! São Paulo ganha hamburgueria temática de Jurassic Park
Uma das franquias de maior sucesso nos cinemas, Jurassic Park tem fãs espalhados por todo o mundo e sempre conquista a criançada com suas atrações interativas como parques temáticos e exposições. E, a partir de 30 de setembro, a cidade de São Paulo receberá mais um destino inspirado nos filmes...

Enfim, dá pra falar de música, design, jogos, moda, gastronomia, turismo e infinitas manifestações disso, mas o interessante é olhar pra essa crise do entretenimento não como um problema exclusivo de Hollywood, mas como um fenômeno cultural maior.